sexta-feira, novembro 24, 2006

I Encontro dos Povos do Japi




UMA OUTRA APA É POSSÍVEL

Paulo Dutra

A afirmação acima diz respeito a APA - Área de Proteção Ambiental da Serra do Japi. Na verdade são três áreas, que compreendem os municípios de Jundiaí, Cajamar e Cabreúva. E mais: no caso de Jundiaí, a APA foi ampliada para proteger a Micorbacia do Rio Jundiai Mirim, atingindo os municípios de Jarinui e Campo Limpo Paulista, onde estão as nascentes do Jundiaizinho.

Mas a APA está ameaçada.

A Prefeitura de Jundiaí, atendendo a pressões de setores da sociedade, procura flexibilizar a lei a APA. Segundo estes setores, o licenciamento ambiental encarece e atrapalha a implantação de novos empreendimentos na cidade.

Não parece ser esta a verdade. A especulação imobiliária faz avançar sobre os fragmentos de mata, mananciais e zona rural, toda espécie de loteamentos e condomínios. Um bom exemplo são os empreendimentos de luxo que surgiram na rodovia João Cereser, em Jundiaí, bem em frente ao Parque da Cidade. Em plena Área de Proteção de Mananciais, os condomínios devastaram uma bela mancha de cerrado, com toda diversidade característica deste bioma.

E não para por aí.

Também am Jundiaí, nas proximidades do Colégio Técnico Vasco Venchiarutti, deverá ser implantado um Alphaville.
A área é uma antiga fazenda, que ficou isolada entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes e o bairro Vila Comercial.
Ali corre límpido o ribeirão das Pedras, que nasce no Japi. Segundo o Plano Diretor do Município, as terras são protegidas e funcionam como um anteparo a zona de conservação, uma defesa para a Serra.

Mas os empreendedores não enxergam nisso um problema. O Plano Diretor não permite. Mude-se o Plano Diretor! E a Prefeitura, ao que parece, não se opõe.

Com a lei da APA flexibilizada e o Plano Diretor complacente, a Serra fica ameaçada.

E surgem questões secundárias, especulações sobre um assentamento do Incra em Cajamar, por exemplo. O futuro núcleo da reforma agrária tem projeto agroecológico e vai ajudar a restaurar uma região já degradada. Mas o preconceito e a falta de informação fazem crescer um movimento de "bastidores", de rejeição ao assentamento. Primeiro foi um abaixo-assinado e uma suposta "aliança" entre vereadores das cidades da APA. Agora, é pela internet que se divulga um sentimento equivocado do tipo "A Serra é Nossa".

A Serra, o ar, a água, são bens-comuns. Aliás, nessa "cesta" do patrimônio comunitário, entram também a língua, a cultura, o folclore e até mesmo a paz e o silêncio.

São aspectos que também ajudam a definir um povo. Povos do Japi.

Quem são eles?

Serão as tribos de Abutres, Caveiras ou independentes que pilotam suas motos pelas trilhas da reserva? Serão os jipeiros, trilheiros, ciclistas, pesquisadores, que conhecem cada quebrada?

Certamente que são todos os habitantes das cidades da APA, Jundiaí, Cabreúva e Cajamar, embora muita gente nem saiba que ela existe.

Mas quem são os Povos do Japi? Será que a Serra ainda esconde populações tradicionais, descendentes dos primeiros colonizadores, escravos, índios, caçadores, mateiros, festeiros, religiosos, benzedeiras, rezadeiras, cantadores?

Os valentes monitores da Serra podem responder essa pergunta? O povo que sobre semanalmente nas visitas monitoradas, é este o povo do Japi?

E os vizinhos? Pirapora do Bom Jesus, que compartilha uma dobra da Serra mas dá conta sozinha da espuma do Tietê. Salto, que bebe a água do Piraí. O Japi emoldura o caminho de Itu, que da outra margem do Tietê contempla a sua beleza.
Estas cidades, também são Povos do Japi. E as gentes dos Cristais, lá de Várzea e Campo Limpo, do Mursa? Quem mais entra nessa conta?

Os Povos do Japi estão nos shoppings, nas escolas, nas empresas, nas igrejas, nas vilas, nas lan-houses, no orkut, no cyberespaço.

E o que querem os Povos do Japi?

Uma outra APA, "flexível" e complacente com o assédio dos especuladores? Uma cidade com APA e com Plano Diretor negociável e adaptável a qualquer situação?

Será que os Povos que por aqui habitam e se encontram querem uma Serra vulnerável a coisas simples, como os tratores da Prefeitura que derrubam ávores e entopem nascentes ou abrem estradas sem cuidados com sua fauna?

O que pensam os mais velhos, pioneiros das caminhadas pelo tombamento? E os mais novos, que debatem na internet os perigos e prazeres do Japi?

E os "forasteiros" que frequentam as trilhas nos fins de semana ou que mudaram para cá, atraídos pelas propagandas do tipo "Com Vista pra Serra" e que aprenderam de fato a amar este lugar?

Para começar a desvendar este mistério e responder as questões, um Encontro dos Povos do Japi.

No tempo real, o Encontro acontece de 01 a 10 de dezembro, numa proposta do Fórum Permanente Caxambu, movimento sócio-ambiental de Jundiaí.

Com abertura na Câmara Municipal no dia primeiro, 20h00, será um tempo de reflexão, debate, busca, criatividade, preocupação, questionamento.

Dez dias pra pensar uma APA possível, sutentável, solidária.

As atividades, nas cidades que compõe a APA e também em Itu e Salto colocam no centro da roda temas como Agroecologia,, Mudanças Climáticas, Direitos Humanos, Paz, Desenvolvimento Sustentável, Água, Saneamento, Plano Diretor, Economia Solidária, Consumo Consciente e muito mais.

Na conversa que abre o Encontro, na Câmara Municipal, o jornalista Leonardo Moreli, falará sobre "Os Arcos da Paz e da Sustentabilidade". Moreli é secretário geral da Defensoria Social e coordenador do Movimento Grito das Águas. Um ambientalista do primeiro time. O tema da abertura apresenta bens-comuns da humanidade, a paz e o ambiente sustentável. Bom mote para conversar sobre o Japi, seus povos, seu destino.

Essa primeira semana de dezembro é também a Semana dos Direitos Humanos, cuja data internacional é lembrada em 10/12.

O I Encontro dos Povos do Japi começa na Semana dos Direitos Humanos, mas não para por aí.

É um Encontro em construção. Um encontro para debater e planejar o Encontro.

Pra falar de coisas urgentes como a questão das leis e de apelos do coração, como a preservação da paisagem para as futuras gerações.

É um Encontro entre os povos e deles com sua Serra. Um encontro da Serra com a APA. E da APA de novo com seus povos.

O I Encontro dos Povos do Japi afirma que uma outra APA é possível.

Uma APA reconhecida, respeitada, protegida, preservada.

A mesma APA, marcada pelo movimento dos séculos e dos povos.

Mas, uma outra APA é mesmo possível? A resposta é urgente. Bom pretexto para um encontro.

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Veja mais sobre o I Encontro dos Povos do Japi, 01 a 10/12, em

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=24010766
http://forumcaxambu.blogspot.com