segunda-feira, março 30, 2009

Walquírias, perto do fim!




Balanço das Águas


A água inspirou dois eventos públicos na cidade durante esta semana: na segunda, 23, a DAE trouxe o jornalista Washington Novaes e na quarta, 25, a Câmara sediou o Fórum do Rio Jundiaí. Previsível, Novaes confirmou o cenário alarmante do planeta, por conta das mudanças climáticas, poluição das águas e consumo desenfreado. Apesar disso, o DAE afirma que a água da cidade está garantida por várias décadas.


Na Câmara, o velho debate sobre a despoluição do rio Jundiaí. O prefeito de Várzea foi pessoalmente. O de Salto também. Miguel Haddad mandou representante, o secretário Spina, de Planejamento e Meio Ambiente. Também aqui, nenhuma novidade: a Sabesp deve tratar o esgoto de Várzea e Campo Limpo lá pra 2012.


Os comitês e conselhos continuam com seus debates e reuniões. O CERJU comemora 27 anos. Os vereadores, sem muita desenvoltura, falam do aglomerado urbano, de plano diretor e plano de águas. E o rio Jundiaí segue poluído e canalizado. O Fórum Caxambu também lançou uma programação paralela, o Fórum Regional Água e Terra - FRATER. Os debates estão em andamento. Em abril, no Dia da Terra, deverá acontecer um painel de avaliações. Uma das idéias, que ganha força, é remunerar os agricultores que conservem a água na Área de Mananciais.


Mas a imagem mais significativa desta Semana da Água é uma enorme estrutura de concreto lá na rua do Retiro. Metrô? Túnel de acesso para a Anhanguera? Não. São toneladas de concreto formando o novo canal do córrego das Walquírias. Uma “maravilha” da engenharia, idealizada pela Prefeitura, que vai tomando forma e revelando o tamanho do estrago. Fruto de um projeto feito às pressas, para aproveitar o dinheiro fácil do PAC, a obra sepultou um trecho bastante preservado deste córrego urbano. Com ele, desapareceu o pequeno ecossistema ali instalado: garças, saracuras, socós, capivaras, preás e peixes, além de uma delicada flora aquática e resquícios de mata ciliar.


Não havia urgência nesta obra. O dinheiro seria mais bem empregado no córrego do São Camilo ou na Baixada Paranaense. Mas se queriam assim, com um pouco mais de cuidado, o Walquírias poderia ser recuperado de forma sustentável. O concreto, tão querido das empreiteiras, serviria para a estrutura de contenção e infiltração das águas, o popular piscinão. A população contaria com um pequeno parque urbano. A vítima mais recente da obra foi uma espatódea, arrancada do local. Árvore originária da África deu azar, cresceu no caminho do canal. Apesar de estar na Área de Proteção Permanente, não há lugar mais provisório e menos protegido do que as margens dos córregos jundiaienses em tempos de PAC.


O PAC, aliás, está órfão. Isso também ficou claro nos debates da semana. Pensado para transformar a cidade em um grande canteiro de obras no ano eleitoral, o PAC não causou muito entusiasmo e trouxe problemas. Seus idealizadores agora estão em outras funções. O ex-prefeito está cuidando de córregos em outra cidade. O atual secretário de obras diz que não gosta de canalizações, mas não mexe no PAC. Já Spina, que é construtor, diz que cimento é o melhor para a drenagem urbana, mas prefere não falar do assunto, entretido com um “grande projeto” de meio-ambiente, que deverá lançar em breve.


A FUMAS voltou a cuidar de habitação. Nunca devia ter saído de seu foco. A DAE nem que saber disso, está ocupada armazenando água para o futuro. O COMDEMA não viu o projeto e não gostou. O promotor estadual de meio-ambiente diz que não dá pra mudar, só mitigar. Como mitigar uma estrutura esdrúxula como aquela? Plantando mudinhas? O promotor federal diz que sua responsabilidade “faleceu”. A ouvidoria da Secretaria Estadual do Meio Ambiente ouve tudo com muita paciência. Mas haja paciência para esperar uma resposta.


A polícia ambiental averigua.E o DEPRN... ah, o DEPRN: diz que não viu nada, que tá tudo certo e deu licença mesmo.


Resta reclamar ao bispo. Mas ele foi embora.


Dizem que o próximo a assumir pode ser “verde”. Já estou rezando.
Paulo Dutra

(as fotos anexas, do autor, mostram o córrego visto da ponte sobre a rua do Retiro, em out/08 e mar/09)